Sem Cruz não há Ressurreição

Com alguma frequência olhamos para o sacrifício da cruz com mágoa, pena e alguma revolta (pois Jesus é condenado injustamente), esquecendo-nos que a Cruz é fundamental na economia salvífica de Deus.
De facto, sem a Cruz, Jesus de uma forma humilhante e anulante não teria vencido a morte para que todos nós, seja qual for a nossa condição, tenhamos uma certeza: “Hoje estarás comigo no Paraíso”(Lc. 23, 43-44). Assim, a cruz tem de ser vista como um sinal de que o Pai nos entregou completamente o Seu Filho muito amado, para que nós, na nossa falsa sabedoria o condenássemos à morte por não conseguirmos compreender como é que alguém podia amar desinteressadamente os pecadores, os pobres, os doentes e acima de tudo os inimigos.
A grande prova da Cruz, é que realmente temos de “dar a vida pelos amigos” (Jo. 15, 13). Cristo não hesitou em dar a vida pela remissão dos nossos pecados, foi pela sua morte que realmente se abriram as portas do Céu para que todos entrassem nele.
No sofrimento da cruz vemos espelhado o nosso próprio sofrimento, daí Cristo ter dito que: “Quem quiser seguir-me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz de cada dia e siga-me.”(Lc. 9, 23-24). No entanto o que Ele nos pede é apenas a nossa cruz do dia-dia ao passo que Ele carregou sobre as suas costas a Cruz dos nossos pecados, no passado, presente e no futuro; se nos queixamos do peso da nossa cruz, onde estão presentes apenas os nossos pecados, imaginemos o peso d’Aquele que não tendo pecados, apenas por amor, levou os pecados de toda a humanidade...
É esta prova deixada por Deus, na pessoa de Jesus, a grande prova que qualquer obstáculo pode ser ultrapassado e que afinal a salvação é mesmo para todos e está ao alcance de todos.
É, de facto, a Cruz a grande prova de que a vida não acaba com a morte e que devemos procurar atingir a santidade a fim de estarmos mais próximos de Deus no dia da ressurreição final.
A Cruz é, com efeito, a primeira etapa para a Ressurreição de Jesus, como vimos na celebração da Sexta-feira Santa, onde O adorámos suspenso nos braços daquela “Árvore nobre, gloriosa!” que doce peso sustentou, onde professamos Jesus como a Salvador do mundo, Aquele Jesus ali morto e crucificado e não outro.
A Paixão e a Cruz devem estar no centro da fé cristã, do mesmo modo que a ressurreição. Todos estes momentos têm a sua importância e sem qualquer um deles a Revelação deixará de ter sentido. Por isso, se excluirmos da nossa vida a paixão ou a morte de Cristo porque realmente são tristes, angustiantes e humilhantes aos olhos dos que não têm fé, como iremos sentir-nos capazes de suportar as nossas iniquidades e continuar com a certeza de que seremos salvos?
São esses três momentos que celebramos diariamente na Eucaristia, todos os dias o sofrimento de Cristo é recordado, mas também não ficamos só pelo sofrimento, damos um “salto”, celebrando a Sua ressurreição e recebendo-O em nós, com a certeza de que também nós um dia morreremos e com Ele ressuscitaremos para a vida eterna.
Para acabar deixo uma frase que uma vez ouvi: “Uma Cruz sem Cristo esmaga, pesa. É Cristo que carrega sobre si o peso da nossa iniquidade. Por outro lado um Cristianismo sem Cruz é ideologia alienante.”